Os governos estadual e municipal precisam sair da propaganda e colocar
em prática, efetivamente, as políticas públicas de inclusão e
acessibilidade para as pessoas com deficiência. Com este alerta,
militantes do Coletivo dos Trabalhadores e Trabalhadoras com Deficiência
da CUT Brasil, da CUT-SP e de diversos sindicatos como Bancários de São
Paulo, Osasco e Região, Metalúrgicos do ABC e SindSaúde-SP, deram seu
recado em ato público realizado na Praça do Patriarca, região central
paulistana, na tarde de sexta-feira (21).
No evento organizado pela CUT-SP para o Dia Nacional de Luta das Pessoas
com Deficiência, o vento frio e a garoa fina que baixaram a temperatura
da Capital paulista não foram empecilhos à manifestação daqueles/as que
batalham no dia a dia para enfrentar os tantos obstáculos existentes na
cidade.
As calçadas esburacadas se multiplicam. Há poucas rampas e as existentes
normalmente não têm a inclinação adequada ou são construídas junto aos
ralos de escoamento de água, o que impossibilita o uso pelos
cadeirantes. O mesmo acontece no metrô por conta do vão entre o trem e a
plataforma. Estes são apenas alguns dos impedimentos à acessibilidade
dos cadeirantes, como apontam o bancário Isaías Dias, do Coletivo dos
Trabalhadores e Trabalhadoras com Deficiência da CUT Brasil e da CUT-SP,
e Marly dos Santos, conselheira municipal da Pessoa com Deficiência.
"A acessibilidade pressupõe que a pessoa com deficiência possa se
deslocar sem ajuda de outras pessoas, e isso não acontece. Por isso, a
questão da deficiência se sobressai mais quando a cidade coloca mais
obstáculos. Se eu estiver num lugar acessível, as pessoas vão notar
menos a minha presença porque vou poder me locomover com autonomia",
explica o bancário.
E os problemas e denúncias não param por aí. Na cidade de São Paulo, o
programa Atende, que segundo a SPTrans transportou em 388 vans adaptadas
mais de 25 mil pessoas no primeiro semestre, é insuficiente para dar
conta da demanda e é classificado pelas pessoas com deficiência como
paliativo diante da falta de transporte coletivo acessível. Além da
falta de ônibus adaptados em toda a frota, que exclui principalmente
quem mora nas regiões periféricas, as pessoas com deficiência reclamam
que há muitos veículos onde o equipamento para acesso por cadeira de
rodas está quebrado.
Mercado de trabalho- O artigo 93 da Lei 8.213/91 determina que, nas
empresas com 100 funcionários ou mais, é obrigatória a contratação de 2%
a 5% de pessoas com deficiência, índice que varia de acordo com o
quadro geral de funcionários. Apesar da obrigatoriedade, os membros do
Coletivo dos Trabalhadores e Trabalhadoras com Deficiência da CUT
reclamam que a legislação não é cumprida e que, ao contrário, existe uma
movimentação do empresariado no Congresso Nacional para tentar reduzir o
índice de contratações.
Isaías Dias rebate o argumento das empresas que alegam que as pessoas
com deficiência não têm capacitação para assumir as vagas existentes.
"Isso é mentira porque para muitos postos de trabalho não é preciso ter
doutorado para assumir cargos. O que vemos é má vontade do
empresariado", denuncia o bancário.
Mesmo com tantos entraves em seus caminhos, muitas pessoas com
deficiência mantêm sua batalha cotidiana pelo direito ao trabalho, à
educação e ao lazer.
Com bom humor, Elisete Aparecida A. Vieira, do Sindicato dos
Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúde-SP),
questiona: "Não enxergar é deficiência? Deficiente não é quem está numa
cadeira de rodas, mas é aquele que não caminha para fazer projeto a
nosso favor. Deficiente visual é nosso governo que não enxerga que nós
não temos acessibilidade, nem semáforos sonoros na cidade. Quem é
deficiente? Nós ou o governo?".
Elisete completa: "Tem gente que olha e diz 'olha, coitadinha, ela não
tem um braço', mas o que eu faço com um só braço é muito mais do que o
governo municipal faz porque ele [o prefeito Gilberto Kassab], com dois
braços, não tem coragem de assinar projetos que fortaleçam nossa
situação", afirmou.
Organizar e cobrar para conquistar- João Batista Gomes, secretário de
Políticas Sociais da CUT-SP, ressaltou que a organização dos
trabalhadores/as é um dos caminhos no embate por políticas públicas no
governo e por conquista de direitos nas empresas.
"A Secretaria de Políticas Sociais busca dar impulso ao coletivo e
incentiva os sindicatos a tratar o tema porque ainda é uma dificuldade
fazer com que incorporem a pauta de reivindicações dos trabalhadores com
deficiência e, a partir daí, na campanha salarial, nos acordos
coletivos, cláusulas sindicais, na exigência do cumprimento da lei de
cotas", apontou o dirigente.
Adriana Magalhães, secretária de Imprensa e Comunicação da CUT-SP,
frisou que os movimentos sociais e a Central têm a obrigação de cobrar
dos governantes que a cidade tenha acessibilidade para todas as pessoas,
principalmente no transporte coletivo e nas vias públicas. E alertou:
"Nesse momento de eleições, é importante observar os candidatos e
candidatas que tenham em seus programas de governo políticas de inclusão
para todos os segmentos, mas principalmente para as pessoas com
deficiência", afirmou.
Sobre o Coletivo de Trabalhadores e Trabalhadoras com Deficiência- Com a
participação das diversas categorias que compõem a CUT/SP, o coletivo
nasceu em 2007 e é resultado do 1º Encontro dos Trabalhadores e
Trabalhadoras com Deficiência no Estado de São Paulo. Além de denunciar
casos de discriminação dos trabalhadores/as com deficiência, o coletivo
exige o cumprimento de leis, reivindica direitos básicos, acompanha as
políticas sociais específicas no Estado e atua, ainda, na formulação de
propostas junto ao poder público.
Fonte: Site CUT BRASIL - Flaviana Serafim/CUT-SP
domingo, 30 de setembro de 2012
Trabalhadores com deficiência reivindicam acessibilidade e inclusão
setembro 30, 2012
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