quarta-feira, 26 de junho de 2013

Com derrubada da PEC 37, Lourival Mendes pode dar adeus à reeleição

Pressionada pelas manifestações que tomam as ruas contrárias ao projeto que retirava poderes de investigação do Ministério Público, a Câmara dos Deputados derrubou nesta terça-feira (25) a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37. O maior derrotado com a derrubada da PEC 37 é o delegado e deputado federal Lourival Mendes (PTdoB-MA), autor da proposta.
Quando apresentou a PEC,  o deputado acreditada que teria o apoio eleitoral de delegados e policiais civis de todo estado. Em pouco tempo o parlamentar viu que o tiro saiu pela culatra. O Ministério Público reagiu contra a proposta e ganhou o apoio das manifestações que acontecem em todo o país.
A derrubada da PEC 37 foi um dos temas mais defendidos durante as manifestações e pode representar o fim das pretensões de reeleição do deputado do PTdoB, eleito com quase 40 mil votos, votação considerada baixa para o cargo.
A votação faz parte de uma agenda positiva criada pela Câmara para responder aos protestos. Nos últimos dias, a proposta passou a ser uma das principais reivindicações dos grupos populares. Foram 430 votos contrários à medida contra 9 favoráveis e 2 abstenções.
O projeto previa que a condução de inquéritos criminais seria exclusiva das polícias, enquanto caberia aos Ministérios Públicos federal e estaduais apenas apresentar ações na Justiça ou arquivar as investigações.
Os delegados de polícia e os deputados favoráveis à PEC 37 argumentavam que é preciso dividir as funções para coibir abusos, enquanto os membros do Ministério Público e a maioria dos parlamentares considerou que o órgão pode fazer suas próprias investigações.
O impasse gerou uma disputa entre as categorias e chegou a ameaçar o andamento de investigações. Com isso, em abril, a Câmara criou um grupo de trabalho com representantes de policiais, do Ministério Público, do governo e da Casa paratrabalhar um texto alternativo. Não houve consenso. O Ministério Público não aceitou apurar de forma extraordinária, só quando tivesse risco para as investigações das policiais.
Sem entendimento, o comando da Casa chegou a anunciar que a votação seria adiada, mas com a mobilização social decidiu engavetar o texto.
Aos gritos de “rejeita, rejeita”, centenas de procuradores e promotores acompanharam a votação nas galerias do plenário. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), fez um apelo pela rejeição da proposta porque “o povo brasileiro quer cada vez mais combate à corrupção” e na defesa da ética. “É um ato de unanimidade derrotar essa proposta”, afirmou.
O líder do PSOL, Ivan Valente (SP), fez um dos discursos mais inflamados e lembrou a pressão popular. “Foi o clamor das ruas que trouxe a PEC e isso que vai derrubar. É isso que tem que ser valorizado. Não é a vontade dos deputados. A pauta do Congresso não tem que ser pautada pelas empreiteiras, pelos bancos, pelos interesses”.
O PT recomendou a derrubada do texto, mas disse que vai discutir regras para a investigação.
Autor da PEC, o deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA) afirmou que o debate em torno do texto foi deturpado e que foi rotulada “indevidamente de PEC da Impunidade”. “Não tem nada de impunidade. Tem garantia do Estados democrático de direito”.
Ao final da votação, deputados e ocupantes da galeria do plenário cantaram o hino nacional.
REGRAS
Atualmente, promotores e procuradores de Justiça também fazem investigações próprias, principalmente por meio dos chamados PICs (Procedimentos de Investigação Criminal). Ocorre que esse tipo de investigação não é regulamentada por lei, apenas por regras próprias nos Estados ou regulamentação do Conselho Nacional do Ministério Público.
Para tratar dessa questão, a Câmara deve colocar em votação um projeto que estabeleça normas para as investigações criminais, mas preservando a atuação do Ministério Público.
Como o projeto foi escrito com o apoio da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), PT e PSDB apresentaram textos semelhantes e começaram a disputar a iniciativa. O PT, no entanto, disse que vai propor essa discussão no segundo semestre. A ideia é distencionar o debate e evitar a pressão popular.
O projeto prevê ação conjunta entre polícia e Ministério Público e estabelece ainda que caberá à polícia fazer buscas e apreensões, por exemplo.
Para o presidente da ANPR, Alexandre Camanho, um dos responsáveis pelo projeto, a proposta responde a uma decisão do Supremo Tribunal Federal, que cobrava uma regra para os PICs, e aos anseios de deputados e da população.
“O projeto simultaneamente regula nossa atuação e contribui para a segurança jurídica em defesa da cidadania”, disse Camanho.
Com informações da Folha

0 comentários:

Postar um comentário