domingo, 15 de junho de 2025

João Mohana: O Tempo e o Eterno

Há nomes que a gente não esquece, não porque os memorizou, mas porque eles se plantaram na alma. João Mohana é assim pra mim. Não o conheci de perto, mas de alguma forma ele me conhece. Como quem me alcançou antes mesmo que eu soubesse que precisava ser encontrado.

Mesmo tendo partido,  permanece. Atravessa as pontes do tempo para fazer morada nos corações dos que vêm depois. João Mohana é desses, um arquiteto de caminhos onde tantos viam abismos.

Hoje celebro cem anos do seu nascimento, e não me parece que seja tanto tempo assim. Porque há pessoas que não obedecem ao calendário. Elas simplesmente ficam.

Penso em Bacabal, o berço. Imagino o menino que talvez olhasse o céu com perguntas que só o tempo responderia. Vejo Viana, cidade que lhe abriu os braços como quem reconhece um amigo antigo. E São Luís… ah, São Luís! Onde João encontrou o sacerdócio, onde ele se deu inteiro — médico, padre, psicólogo, escritor — como quem compreendeu que uma vida só não caberia em si mesmo.

Dizem que centenários são celebrações de memória. Eu digo que são celebrações de permanência. João não é passado. Ele é presença. Está no menino Roberto, hoje um jovem advogado que,  na Praça de Santa Terezinha de Bacabal,  folheia um dos seus livros com a curiosidade de quem abre uma porta.

Está na moça de Viana querendo encontrar,  nas entrelinhas, um consolo inesperado. Está  no idoso da ilha do amor, em sua Paz pela oração a agradecer por ter sido alcançado pelas palavras do padre-escitor.

Como cronista, peço licença para caminhar devagar por entre as páginas que ele deixou Porque João Mohana escrevia como quem reza, e rezava como quem escreve quase em transe mediúnico. Suas palavras não eram feitas para o barulho, mas para escuta. Não eram para os olhos apressados, mas para os corações que ainda se permitem ser tocados.

Ele andou por muitos caminhos, mas soube abrir outros. Foi assim que nos ensinou: que sempre há o outro caminho, mesmo quando o chão parece curto. Que há travessias possíveis, mesmo quando a alma se perde nas tempestades. Aprendi que Não basta amar para ser feliz no casamento,  a amar os perseguidos e entender o mundo e eu e seguir seu conselho diga não ao imperialismo cultural. 

Li suas palavras como quem se senta para ouvir alguém muito mais sábio e, ainda assim, muito próximo. João Mohana não escreve para impressionar; ele escreve para abraçar. E no abraço dele há uma ternura que atravessa as páginas, uma esperança que se instala devagar.

Não é só literatura — é cuidado. É colo para quem está cansado, é mão estendida para quem não sabe por onde recomeçar.

Eu penso que homenagear João Mohana hoje é menos sobre lembrar, e mais sobre reconhecer: ele nunca foi embora. Ele mora na praça de Bacabal, no vento que atravessa Viana, no sino de uma igreja qualquer em São Luís. Ele mora nos livros que seguem vivos, nos corações que ainda buscam sentido.

Há homens que passam.
E há aqueles que permanecem.

João Mohana permanece.

E, no silêncio entre uma palavra e outra, é como se eu o ouvisse ainda dizendo:
Vai. O outro caminho te espera.

José Casanova 

Professor,  jornalista e escritor 

Membro da Academia Bacabalense de Letras 

Academia Mundial de Letras da Humanidade 

Tutor da Academia Maranhense de Letras Infantojuvenil 

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