segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

A Agonia e Morte do Rio Itapecuru e seus Afluentes

O Rio Itapecuru outrora foi um gigante imponente. Suas águas serpenteavam pelo Maranhão, levando vida e sustento às margens que o cercavam. Era o berço dos peixes, o espelho das matas, o caminho das canoas que, por décadas, transportaram histórias, sonhos e esperanças. Mas hoje, o rio está morrendo, agonizando sob os olhares omissos, negligentes e inoperantes das autoridades políticas e dos gestores ambientais.

- Seus dias de glória ficaram para trás, afogados no descaso e na poluição. O que antes era um fluxo generoso de águas cristalinas agora se arrasta em um fio barrento, sufocado por resíduos sólidos e contaminação. As matas ciliares, que outrora o protegiam como braços zelosos, foram suprimidas e queimadas sem piedade, cedendo espaços a pastagens e plantações que drenam e sangram sua essência. A terra nua desliza em suas margens, despejando sedimentos que o sufocam — como se fossem os últimos punhados de areia sobre um túmulo prestes a ser fechado.

- Os peixes, antes abundantes, tornaram-se raridade. Os que ainda resistem nadam entre plásticos, garrafas e esgotos despejados sem pudor. A poluição e a contaminação de suas águas contrastam com a brisa fresca que embalava a infância dos ribeirinhos. As crianças, que antes brincavam em suas margens, agora se afastam, alertadas pelos pais sobre os perigos que um rio doente pode trazer.

- Os velhos pescadores e ribeirinhos, de olhar entristecido, sentam-se à beira do que restou do rio e contam histórias de um tempo em que Itapecuru era sinônimo de fartura. Falam do brilho dos peixes prateados, das tardes em que as águas eram tão límpidas que refletiam o céu como um espelho. Hoje, o reflexo é outro. É o de uma humanidade que, cega por sua própria ganância, assiste impassível à morte e a agonia lenta de um de seus maiores tesouros naturais.

RIO ITAPECURU
- O Rio Itapecuru agoniza e pede socorro. Sua voz é o silêncio dos peixes que já não saltam, o murmúrio das águas que se arrastam cansadas, a dor de quem vive às suas margens e sente sua morte dia após dia. Mas ainda há tempo para salvá-lo? Ou nos resta apenas lamentar, como quem se despede de um velho amigo que partiu cedo demais?

- Se houver esperança, que ela venha como chuva sobre suas águas barrentas e ressecadas. Que brote na consciência ambiental dos que ainda podem agir, no despertar daqueles que compreendem que o Rio Itapecuru não agoniza nem morre sozinho. Ele leva consigo a história, a vida e o futuro de todos que dele dependem. E, no fim das contas, todos nós dependemos do Itapecuru para nos alimentar e saciar nossa sede.




José Carlos Aroucha.
Engº Florestal, Professor, Ambientalista, Cronista e Escritor

2 comentários:

  1. Não podemos lamentar nem cruzar os braços.temos que agir urgente.vamos fazer um abaixo assinado.temos que convocar os estudantes para pressionar o governo federal,estadual e municipal.

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  2. Muito triste. Porém, ainda podemos reverter esse quadro com desenvolvimento de políticas públicas socioambientais e educação ambiental efetiva nas comunidades que pertencem a bacia hidrográfica do Rio Irapecuru. Abraços fraternos e cordiais. A luta continua em prol do Rio Irapecuru!!

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