Em 2016, a cultura do Maranhão e do Brasil perdeu um grande artista: o cantor, compositor e premiado instrumentista Bacabalense José de Ribamar Viana, mais conhecido como Papete. Ao longo de quatro décadas de músicas, Papete ganhou prêmios, tocou com grandes nomes da MPB e se apresentou por 18 países, além de realizar uma importante obra de preservação dos ritmos maranhenses. Um pouco da sua história está contada nesta entrevista, concedida pela Relações Públicas Giselle Paiva, viúva de Papete, que vem trabalhando para manter vivo o nome deste artista multifacetado, apaixonado pela cultura popular do estado, ao jornalista Marcos Fábio também Bacabelense e membro da Academia Bacabalense de Letras, responsável pelo site Região Tocantina. Vale a leitura.
Região Tocantina – Quem foi Papete antes de ser Papete, artista, músico, cantor e compositor?
Giselle Paiva – O Papete, ou melhor, o José de Ribamar Viana, foi uma pessoa simples, nascido em Bacabal- MA. Na infância foi morar em São Luís, estudou no colégio Marista e foi uma criança bem danada, criado pela avó. Morava, no centro, no Largo do Santiago e por ali mesmo já começou o seu interesse pela música. Naquela região orbitavam vários músicos, todos vizinhos: Ubiratan Sousa, que Papete chamava de Cara de Ralo, João Pedro Borges e muitos outros. O Papete tinha uma ligação muito forte com Chico Saldanha, cantor e compositor, seu irmão Nena e Ubiratan Sousa. Faziam muitas músicas juntos e eram todos vizinhos. Terminou a escola, trabalhou no grupo Lusitana e depois foi para a Marinha. Tempos depois resolveu que queria morar em São Paulo para tentar a vida. Essa decisão não agradou o pai, que não queria filho artista. Em SP, a vida não foi fácil, passou fome, dormiu na praça e muitas vezes lavou banheiro de bares por um prato de comida, mas nunca perdeu a esperança e a dignidade, valores que trouxe da família.
Região Tocantina – Qual é a dimensão artística de Papete?
Giselle Paiva – Diferentemente do que muitas pessoas sabem, o Papete conquistou uma carreira nacional e internacional como músico, sendo muito premiado pelo APSA – Associação Paulista de críticos e Artes. No ano de 1970, ele começou a tocar na casa noturna Jogral (SP), acompanhando alguns cantores da noite. E foi nessa casa que tudo começou, pois ali ele começou a ser conhecido e reconhecido como um exímio percussionista. Posteriormente, realizou sua primeira incursão em estúdio, ao lado do cantor Toquinho. Em 1974, participou de um projeto de músicas regionais, lançado pela etiqueta Marcus Pereira, onde gravou o disco Bandeira de Aço. Atuou como músico em shows de Toquinho & Vinicius de Moraes, onde acompanhou Toquinho em vários shows, em turnê por 18 países. Foi considerado pela Apca como o melhor percussionista brasileiro nos anos de 1983, 1984 e 1985. A partir de 1990, passou a apresentar-se pelo Brasil com uma banda própria, interpretando músicas do Maranhão. Nessa época, começou a se dedicar à pesquisa, registro e divulgação das obras de compositores maranhenses. Ao longo de sua carreira artística, atuou em shows e gravações com Rosinha de Valença, Marília Medalha, Hermeto Pascoal, Osvaldinho da Cuíca, Toquinho e Vinicius, Benito de Paula, Inezita Barroso, Diana Pequeno, Renato Teixeira, Almir Sater, César Camargo Mariano, Rita Lee, Sadao Watanabe, Angelo Branduardi, Andreas Wollenweider, Ornella Vanone e Alex Acuña, entre outros. Obteve notoriedade internacional por sua técnica no berimbau.
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Região Tocantina – Quais as características da obra do cantor e compositor Papete?
Giselle Paiva – O Papete fez uma grande pesquisa da música maranhense, onde deixou um grande legado, gravando e elevando as músicas de alguns artistas maranhenses. Acredito que uma grande característica da sua obra era o ritmo, a percussão, os tambores. Sua grande paixão era o Bumba meu Boi, sendo o seu último trabalho o livro, “Senhores Cantadores, Amos e Poetas do Bumba meu Boi do Maranhão”, uma pesquisa nunca realizada retratando a história e realidade desses cantadores.
Região Tocantina – Se você pudesse indicar, qual é o melhor “caminho” para se conhecer a obra dele?
Giselle Paiva – Para conhecera sua obra, eu recomendo o site:
Papetesp.com.br
no Instagram: papeteoficial
e no Youtube: papeteoficial
Região Tocantina – Qual a relação de Papete com o Maranhão?
Giselle Paiva – Essa relação envolvia muito amor, dedicação e preocupação com a cultura da sua terra, principalmente o que era voltado para a música. Ele dizia que tinha uma missão com a cultura e música maranhense.
Região Tocantina – Hoje, alguns anos depois da sua morte, como a arte de Papete continua viva?
Giselle Paiva – A Arte dele sempre é divulgada por meio das redes sociais e também por muitas homenagens que são feitas no Maranhão e no Brasil afora. Dessa forma, a sua obra permanece viva.
Região Tocantina – Há algum projeto futuro para um memorial, museu ou algo do tipo?
Giselle Paiva – Sim, está vindo em 2024, ano em que o Papete faria 50 anos de carreira, um projeto bem interessante, mas infelizmente ainda não pode ser divulgado.
Região Tocantina – Como você enxerga o futuro para a obra e a memória do cantor e compositor Papete?
Giselle Paiva – Bom, eu sou responsável por toda a obra do Papete, gostaria muito de poder me dedicar mais à preservação da memória e de toda a sua obra/trabalho, mas infelizmente eu não tenho esse tempo, não trabalho com cultura e também não moro em São Luís. Mas, na medida do possível, acabo me envolvendo e sempre sendo requisitada para falar da obra desse grande artista e grande ser humano.
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