Em abril deste ano, Ariano foi aplaudido de pé ao entrar no auditório do Museu Nacional, onde recebeu homenagem na II Bienal Brasil do Livro e da Leitura. Ele prendeu a atenção do público durante a aula-espetáculo que, como todas as outras que fez durante a vida, teve por mote a valorização da cultura popular. Ariano reivindicava nas palestras o Brasil como berço de sua própria manifestação cultural.
Lúcido, Ariano concedeu entrevista exclusiva ao Correio na última vez em que esteve na capital federal. Falou sobre crenças, militância artística, e sobre o andamento do livro O jumento sedutor, que escrevia há mais de 30 anos.
Vida: presentes e perdas
O autor paraibano sempre foi muito interessado pelas relações humanas e acreditava que a convivência com os seres humanos poderia ser rica de significados e experiências. O talento, que descrevia como um dos presentes que ganhara de Deus, dava a ele a habilidade para transformar o modo como costumava ver os trâmites da vida em histórias, tanto no teatro como na literatura. "Acho a vida um espetáculo maravilhoso, tem momentos muito duros, mas a convivência com o ser humano é muito enriquecedora, muito boa."
Católico, Ariano levava para todos os lugares a imagem de Nossa Senhora gravada em uma medalha. Era ela que, segundo ele, mediava as conversas que tinha com Deus, principalmente, quando os pedidos eram muitos. "Converso muito com Deus, todos os dias. E entra muito assunto, muitos pedidos. Vergonhosamente, acho que tem mais pedido que agradecimento. Quando acho que estou incomodando muito, recorro a medianeira de todas as graças, que me acompanha a todo momento e para todo o lugar que vou, levo."
As perdas na vida de Ariano vieram cedo. Aos 3 anos de idade, o pai foi assassinado e esse episódio o marcaria pelo resto da vida. "Éramos nove irmãos e hoje somos quatro, ou seja, eu perdi cinco irmãos e de homem só resto eu. Essas foram as piores perdas, além de outras perdas familiares, como uma tia, porque sou um homem que teve duas mães. Além da perda da minha mãe, teve a perda dessa tia." Mas os presentes também vieram dentro da própria família. "Tive uma família maravilhosa, inclusive, meu pai exerceu uma grande influência, apesar de ter convivido tão pouco."
Prêmio Nobel
Ariano chegou a ser indicado pelo Senado Federal, em 2012, para concorrer à premiação. O nome de Suassuna foi defendido por ser um dos escritores brasileiros mais reconhecidos, mas principalmente pela valorização na sua obra da cultura nacional e, em especial, sertaneja. “Parece-me um prêmio político. Vou te dar um exemplo. O (político e primeiro-ministro britânico) Churchill, com todo seu pensamento belicista, começou a reivindicar, no fim da carreira, o Prêmio Nobel da paz. Ficaram com vergonha e deram o de literatura! (risos) Tolstói perdeu. Não deram. O jovem sueco (e dramaturgo Johan August) Strindberg ainda fez campanha, mas não deram. Acabaram dando para um outro sueco que só quem lembra o nome sou eu. Complicado. Problemas de geopolítica”, opinou o escritor.
Obras
ROMANCES
- O romance d'A pedra do reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta. Rio, José Olympio, 1971; Agir, 2005
- História d'O rei degolado nas caatingas do sertão: ao sol da Onça Caetana. Recife, Diario de Pernambuco, 1975-1976; Rio, José Olympio, 1977
- As infâncias de Quaderna, Recife, Diario de Pernambuco, 1976-77 (folhetins semanais)
- Fernando e Isaura [1956],Recife, Bagaço, 1994
- História de amor de Fernando e Isaura, Rio de Janeiro, José Olympio, 2006
PEÇAS TEATRAIS
- Uma mulher vestida de sol – Recife, Imprensa Universitária 1964
- O auto da compadecida – Rio de Janeiro, Agir, 1957
- O casamento suspeitoso – Recife, Iguarassu, 1961
- O santo e a porca – Recife, Imprensa Universitária, 1964
- A pena e a lei – Rio de Janeiro, Agir, 1971; 2005
- A farsa da boa preguiça – Rio de Janeiro, José Olympio, 1974
- A história do amor de Romeu e Julieta – São Paulo, Folha de S. Paulo, 19/01/1997
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