domingo, 25 de agosto de 2024

CRÔNICA: A Corrida Contra o Tempo

Em Bacabal, onde o sol escaldante parece sempre estar com pressa para o fim da tarde, Vive Seu João. Um senhor dos seus sessenta anos, magro, mas forte pela lida da vida. Os olhos verdes contrastam com a pele abundante em melanina Ele era um pedreiro conhecido por sua habilidade e capricho. "Devagar e sempre", repetia ele, como um mantra, enquanto assentava cada tijolo com a precisão de um relógio.

Mas, na mesma rua 3 da Vila São João, morava Dona Lurdes, uma senhora apressada que descobriu que o tempo era feito de ouro.  Dona de uma pequena vendinha, onde tudo é feito às pressas.

 - Se o cliente está com pressa, eu também estou! - Justificava, enquanto passava o troco sem nem olhar direito as moedas.

Certo dia, Dona Lurdes decidiu construir uma varanda nova para sua casa.

 - Seu João, eu preciso que essa varanda fique pronta em três dias! O casamento da minha sobrinha é no sábado, e eu não posso receber os convidados com a casa assim. – Declarou  Lurdes apressada.

Seu João, com a calma de quem já viu muitos pedidos apressados ​​na vida, respondeu:  - Dona Lurdes, a pressa é inimiga da perfeição. Se eu fizer essa obra correndo, as paredes podem até ficar de pé, mas não vão durar o próximo inverno.  – Declarou João com sua paciência de Jó.

 - Deixe de ser exagerado, Seu João! Eu confio no seu talento. Três dias é tempo mais que suficiente! – Exclamou Lurdes já visualizando a varanda pronta.

Mesmo contrariado, Seu João aceitou o trabalho. Com a pressão imposta por Dona Lurdes, cada tijolo era colocado de forma menos cuidadosa, e o cimento mal tinha tempo de secar antes de mais uma camada ser aplicada. Dona Lurdes, que não queria saber de desculpas, passando todo o dia para fiscalizar, apressando ainda mais o pobre pedreiro.

No terceiro dia, a varanda estava lá, erguida, pintada e aparentemente perfeita. Dona Lurdes estava radiante.

 _ Eu sabia que o senhor daria conta! Agora vou poder exibir minha casa nova para todos! – Disse sacudindo as cadeiras de mulher cinquentona.

Pagou a mão de obra de seu João que ao receber o dinheiro contou cada nota cuidadosamente. Lourdes olhou a calmaria de João e falou:

_ oh homem lerdo meu Deus!...

João respondeu com um sorriso tranquilo e silencioso.

 Porém, naquela mesma noite, uma chuva forte caiu sobre  a terra da Bacaba. Enquanto os convidados se reuniam na sala, um estalo seco ecoou pela casa. Antes que alguém pudesse entender o que estava acontecendo, a varanda recém-construída começou a ceder. Os tijolos desmoronaram, e a varanda ruiu como um castelo de cartas.

Dona Lurdes, incrédula, olhou para a destruição.

_Como isso poderia acontecer? – Indagou olhando  a construção que veio a baixo.

Seu João, que estava por ali para garantir que tudo estivesse em ordem, apenas balançou a cabeça e disse com um leve sorriso no canto da boca:

_Dona Lurdes, a pressa, além de inimiga da perfeição, tem uma aliada poderosa: a realidade .Ela não perdoa quando as coisas são feitas de qualquer maneira. – Disse João .

E assim, entre os risos dos convidados, que agora viam a situação com humor, Dona Lurdes aprendeu, do jeito mais difícil, que em Bacabal, como em qualquer lugar, não adianta correr se o caminho não está bem pavimentado.

Autor: José Casanova
Professor, Jornalista e Escritor
Membro da Academia de Letras de Bacabal
e Academia Mundial de Letras da Humanidade

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