Em Bacabal, onde o sol escaldante parece sempre estar com pressa para o fim da tarde, Vive Seu João. Um senhor dos seus sessenta anos, magro, mas forte pela lida da vida. Os olhos verdes contrastam com a pele abundante em melanina Ele era um pedreiro conhecido por sua habilidade e capricho. "Devagar e sempre", repetia ele, como um mantra, enquanto assentava cada tijolo com a precisão de um relógio.
Mas, na
mesma rua 3 da Vila São João, morava Dona Lurdes, uma senhora apressada que
descobriu que o tempo era feito de ouro. Dona de uma pequena vendinha, onde tudo é
feito às pressas.
- Se o cliente está com pressa, eu também
estou! - Justificava, enquanto passava o troco sem nem olhar direito as moedas.
Certo dia,
Dona Lurdes decidiu construir uma varanda nova para sua casa.
- Seu João, eu preciso que essa varanda fique
pronta em três dias! O casamento da minha sobrinha é no sábado, e eu não posso
receber os convidados com a casa assim. – Declarou Lurdes apressada.
Seu João,
com a calma de quem já viu muitos pedidos apressados na vida, respondeu: - Dona Lurdes, a pressa é inimiga da
perfeição. Se eu fizer essa obra correndo, as paredes podem até ficar de pé,
mas não vão durar o próximo inverno. –
Declarou João com sua paciência de Jó.
- Deixe de ser exagerado, Seu João! Eu confio
no seu talento. Três dias é tempo mais que suficiente! – Exclamou Lurdes já visualizando
a varanda pronta.
Mesmo
contrariado, Seu João aceitou o trabalho. Com a pressão imposta por Dona
Lurdes, cada tijolo era colocado de forma menos cuidadosa, e o cimento mal
tinha tempo de secar antes de mais uma camada ser aplicada. Dona Lurdes, que
não queria saber de desculpas, passando todo o dia para fiscalizar, apressando
ainda mais o pobre pedreiro.
No terceiro
dia, a varanda estava lá, erguida, pintada e aparentemente perfeita. Dona
Lurdes estava radiante.
_ Eu sabia que o senhor daria conta! Agora vou
poder exibir minha casa nova para todos! – Disse sacudindo as cadeiras de
mulher cinquentona.
Pagou a mão
de obra de seu João que ao receber o dinheiro contou cada nota cuidadosamente.
Lourdes olhou a calmaria de João e falou:
_ oh homem
lerdo meu Deus!...
João
respondeu com um sorriso tranquilo e silencioso.
Dona Lurdes,
incrédula, olhou para a destruição.
_Como isso
poderia acontecer? – Indagou olhando a
construção que veio a baixo.
Seu João,
que estava por ali para garantir que tudo estivesse em ordem, apenas balançou a
cabeça e disse com um leve sorriso no canto da boca:
_Dona
Lurdes, a pressa, além de inimiga da perfeição, tem uma aliada poderosa: a
realidade .Ela não perdoa quando as coisas são feitas de qualquer maneira. –
Disse João .
E assim,
entre os risos dos convidados, que agora viam a situação com humor, Dona Lurdes
aprendeu, do jeito mais difícil, que em Bacabal, como em qualquer lugar, não
adianta correr se o caminho não está bem pavimentado.
Professor, Jornalista e Escritor
Membro da Academia de Letras de Bacabal
e Academia Mundial de Letras da Humanidade
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