Na sala de aula da Escola João Mohana em Bacabal, o chiado das cadeiras, o barulho das folhas virando e o arranhar das canetas se tornaram sons cada vez mais raros. O que antes era preenchido por conversas entre alunos e as explicações do professor, hoje está sendo suavemente substituído por uma interface brilhante. Se antes a aprendizagem era uma troca visceral, quase humana, agora a educação encontra-se mediada por algoritmos complexos e sistemas de inteligência artificial (IA) que prometem transformar o processo de ensinar e aprender.
Agora a Escola era destaque nos eventos de robótica internacionais, a mostra bacabalense de foguetes prometia novos cientistas para o País.
_Você já viu a nova ferramenta da escola? - perguntou Mariana, aluna do terceiro ano, enquanto mostrava a tela do celular para sua colega. No dispositivo, uma IA conversava com ela de forma quase natural, respondendo às dúvidas de física com uma precisão que nem o próprio professor conseguiria. A professora Teresa, que dava aula há quase 20 anos, assistia a tudo com uma mistura de fascínio e inquietação.
No início, a ideia parecia promissora.
_A IA vai personalizar o aprendizado, cada aluno terá um plano de estudo único - Disseram os especialistas.
_Os professores terão mais tempo para se concentrar nas necessidades individuais dos alunos, enquanto a máquina faz o trabalho pesado. - Mas será que é assim tão simples? Será que a tecnologia pode substituir a experiência de uma aula vibrante, com discussões profundas sobre o mundo, onde os erros são aprendizados e os acertos, conquistas compartilhadas?
O impacto da IA na educação é como uma faca de dois gumes. De um lado, ela promete resolver o problema da falta de personalização do ensino, ajudando alunos com diferentes ritmos de aprendizado a se desenvolverem no seu próprio tempo. O sistema pode adaptar o conteúdo, sugerir exercícios, corrigir provas em minutos e fornecer feedback instantâneo. Isso, claro, pode ser uma mão na roda para quem está preso a currículos rígidos e sobrecarregados de tarefas. Mas, de outro, há uma pergunta que paira no ar: e o calor humano, o afeto que transforma o aprendizado em algo mais do que uma mera transferência de conhecimento?
Na sala de aula, a interação social entre os alunos também mudou. Aqueles que antes se reuniam em grupos para discutir os exercícios, agora se veem cada vez mais isolados, conectados a máquinas em vez de uns aos outros. O debate, o diálogo, o improviso — tudo isso foi se diluindo diante de uma tecnologia que, embora impressionante, ainda não entende de nuances humanas. A IA pode responder a perguntas sobre equações, mas não é capaz de perceber a ansiedade de um aluno que teme o futuro.
Enquanto a professora Teresa caminava pela sala, observava os alunos, imersos em suas telas. Não podia negar o impacto da tecnologia no aprendizado. Alguns estavam mais concentrados, outros pareciam perdidos em um mar de informações, tentando acompanhar o ritmo da máquina. E ela se questionava: o que aconteceria com as futuras gerações? Estariam mais preparados para o mundo digital ou, na verdade, mais distantes uns dos outros?
Na sua cabeça, surgia uma dúvida inevitável: no esforço por ensinar de forma mais eficiente, estaríamos realmente preparando os alunos para o mundo real? Será que a empatia, o pensamento crítico e a criatividade, habilidades humanas por excelência, não estariam sendo deixadas para trás, substituídas por números e códigos que não entendem as complexidades da vida?
Enquanto os alunos se dispersavam para o intervalo, Mariana, por curiosidade, perguntou à IA:
_O que é mais importante para aprender? O conhecimento ou a experiência?
A resposta veio instantaneamente: "Ambos são importantes. O conhecimento amplia as possibilidades, enquanto a experiência ensina a aplicá-lo."
Mariana sorriu, mas, ao olhar para a professora, não pôde evitar o pensamento de que, por mais que a tecnologia avance, a verdadeira resposta talvez não esteja nas máquinas. Está nas histórias, nas conversas e, principalmente, nas mãos de quem, com paciência e dedicação, ensina os alunos a serem mais do que recipientes de informações — a serem seres humanos completos.
A educação, afinal, não pode ser reduzida a números e algoritmos. Ela deve ser, acima de tudo, uma experiência de transformação, de crescimento pessoal e coletivo. A IA pode ser uma ferramenta, mas o que realmente forma o aluno é o contato humano, as ideias compartilhadas e as emoções vividas em cada etapa dessa jornada.
Cara leitor(a), devo confessar um pecado intelectual. Busquei ajuda de uma inteligência artificial para escrever esta crônica; mas não deu certo, faltou sentimento e minha impressão digital literária, tive que reescreve-la com minhas palavras e Interpretação da realidade.
E assim, no balanço entre máquina e ser humano, a professora Teresa continuava a ensinar, com a certeza de que, por mais avançada que fosse a inteligência artificial, o verdadeiro aprendizado ainda dependia, e sempre dependeria, da sabedoria de quem ainda acreditava no poder do toque, da voz e da presença.
JOSÉ CASANOVA
Membro da Academia Bacabalense de Letras e Academia Mundial de Letras da Humanidade