quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pedido de vista adia votação na AL de projeto polêmico

POR OSWALDO VIVIANI
Um pedido de vista, feito pelos deputados Rubens Pereira Júnior (PC do B) e Carlos Alberto Milhomem (DEM), adiou, no final da manhã de hoje, por 24 horas, a votação do projeto de lei que estatiza a Fundação José Sarney. O projeto foi enviado na segunda-feira (17) à Assembleia Legislativa pela governadora Roseana Sarney (PMDB). Antes do pedido de vista, já havia sido aprovada hoje a votação do projeto em regime de urgência.
Deputados da oposição – como Marcelo Tavares (PSB), Rubens Júnior e Bira do Pindaré (PT) criticaram a estatização da fundação. A falta de definição sobre o quadro funcional da entidade e a indefinição dos custos aos cofres públicos foram as lacunas no projeto mais questionadas.
Foto: José Cruz
Roseana e o pai, José Sarney: contribuinte vai sustentar Fundação Sarney
A Fundação José Sarney, abrigada no Convento das Mercês, localizada no Desterro (bairro central de São Luís), passa por dificuldades financeiras desde que foi envolvida em irregularidades, em 2009, após ser constatado o desvio de dinheiro de patrocínio da Petrobras para o Grupo Mirante de Comunicação, pertencente à família Sarney. No prédio da entidade, o presidente do Senado reservou um espaço (um jardim com chafariz) onde quer ser sepultado e ver erguido um mausoléu em sua homenagem. Tanto o Ministério Público Estadual como o Federal investigam desvios de recursos federais na Fundação Sarney.
A oposição, integrada por apenas sete parlamentares, tem poucas chances de obstaculizar o projeto. São contra a estatização da Fundação Sarney os deputados Marcelo Tavares (PSB), Rubens Pereira Júnior (PC do B), Edivaldo Holanda (PTC), Bira do Pindaré (PT), Eliziane Gama (PPS), Cleide Coutinho (PSB) e Gardênia Castelo (PSDB).
O texto do projeto roseanista, que transforma a Fundação José Sarney em “Fundação da Memória da República Brasileira”, foi publicado na edição de segunda-feira (17) do Diário da Assembléia.
No texto, a governadora afirma que entidade terá “natureza jurídica pública” e será inserida na administração do Estado como “sucessora da atual Fundação José Sarney”.
“Lamentavelmente, a história da Fundação tem sido marcada por constantes crises financeiras”, diz a governadora, alegando que “sem fontes públicas de financiamento”, a fundação do pai – presidida atualmente por um velho amigo de Sarney, Joaquim Itapary – está se sustentando com “assistemáticas contribuições de cidadãos e empresas privadas.”
Como as verbas são “insuficientes” para o custeio da fundação, Roseana invoca o parágrafo 2o do artigo 216 da Constituição Federal: “Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.”
Roseana informa, ainda, que “o senhor José Sarney transferirá para o patrimônio da nova entidade todos os bens de sua propriedade “que se encontram na fundação."
Pede que a proposta seja analisada pelos deputados a toque de caixa, em regime de “urgência”.
Segundo o projeto da governadora, ao ser estatizada a Fundação passaria a ser vinculada à Secretaria de Educação do Estado (Seduc).
Num dos trechos do projeto, é estabelecido que “a nova fundação terá como patrono o intelectual e político o maranhense José Sarney, ex-governador do Maranhão, membro da Academia Brasileira de Letras e ex-presidente da República.”
Entre os objetivos da entidade, são listados “a guarda, preservação, organização e divulgação dos acervos documentais, bibliográficos, iconográficos e artísticos do patrono da Fundação”.
No parágrafo 4o do artigo 3o, o projeto roseanista passa ao Tesouro estadual a responsabilidade pelo custeio da Fundação Sarney: “O Poder Executivo incluirá na proposta orçamentária de cada exercício […] dotação suficiente para as despesas correntes e de capital necessárias ao cumprimento das finalidades da fundação [...]”.
Não é informado no projeto o valor do custo de manutenção da Fundação, seja mensal ou anual.
O artigo 5o da proposta trata da composição do Conselho Curador da fundação. Terá 11 membros, dois dos quais indicados “patrono” José Sarney.
O projeto prevê até o que será feito “em caso de falecimento” de Sarney: as duas vagas de sua cota seriam providas “por indicação dos herdeiros e/ou sucessores do patrono.”
O artigo 9o estabelece: “Os servidores da Fundação da Memória Republicana Brasileira serão regidos pelo Estatuto dos Servidores Públicos Civis do Estado do Maranhão.”
Não há menção a concursos públicos. Fica subentendido que os atuais servidores da Fundação Sarney serão abrigados na folha salarial do Estado. (Com informações dos blogs dos jornalista Josias de Souza e Raimundo Garrone)
Projeto também é 'homenagem' à democracia?
Há alguns dias, José Sarney referira-se ao uso de helicóptero do Estado num passeio de final de semana como uma “homenagem à democracia”.
A filha Roseana tonifica a “homenagem” ao regime convertendo a fundação do pai numa entidade 100% financiada pelo dinheiro público.
No auge da crise do Senado, diante da denúncia de que sua fundação malversara verbas de patrocínio da Petrobras, Sarney acenara com a hipótese de fechá-la.
Na proposta à Assembléia, Roseana aperfeiçou a ideia, convertendo a fundação de privada em estatal.
São grandes as chances de aprovação do projeto.
O bloco parlamentar que dá suporte à gestão da filha de Sarney é majoritário na Assembléia. (Blog do Josias de Souza)

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