Em
outubro do ano passado, No
último dia 23 de outubro, no Programa The Noite, o
apresentador Danilo Gentili entrevistou a autista e jornalista Amanda Ramalho.
A qual falou da sua trajetória e do seu diagnóstico de autismo. Sendo várias
vezes interrompida na sua fala pelo apresentador Gentili que comunicou ter sido
“diagnosticado” com autismo há mais de um ano.
Ao fazer o comunicado do seu “diagnóstico” , o apresentador disse que
teria sido informado que teria que “fazer exame” para saber em “qual espectro”,
nível do autismo estaria. Desinformado e mal assessorado, pois não há exame
para detectar o TEA(Transtorno do Espectro Autista). A avaliação é clínica.
Pode ser com psicólogo(a) ou médico(a). Geralmente, a partir do relatório
psicológico , o (a) médico(a) realiza testes para fechar o diagnóstico. Isso levando
ano ou anos para fechar o diagnóstico. Assim, foi o meu diagnóstico e de
muitos(as) outros(as) autistas adultos.
Não existe menos ou mais
autista. Autista é autista. O diagnóstico mostra o nível de suporte a partir do
prejuízo vivido e vivenciado. Somando-se
a necessidade de intervenções terapêuticas. Dessa forma, o diagnóstico
só faz sentido se a pessoa precisa de ajuda e não para quem não quer saber se é autista como bem disse o
apresentador mencionado anteriormente, prestando tamanho desserviço devido ser
uma pessoa pública. Como um autista adulto digo que já basta a sociedade
capacitista e racista tentar invalidar o meu diagnóstico e destilar estigmas e
preconceitos.
Fiquei pensando: se o
apresentador Danilo Gentili não queria saber se era autista. Por que foi buscar
o diagnóstico? Muito contraditório. Não é mesmo? Ao mesmo tempo, banalizando o
diagnóstico que não é nenhum “ diploma para fazer piada”. Não sabendo que a Lei
12.764/12 determina que a pessoa com TEA é considerada pessoa com deficiência
para todos os efeitos legais. Em função do meu ativismo e militância neurodivergente, conheço e tenho
conhecimento de vários adultos que não querem buscar o diagnóstico e
de muitos que não querem comunicar o diagnóstico. Um direito pessoal e
intransferível. Mas que não dá o direito de banalizar o diagnóstico.
“ O autismo virou modinha”; “
Você não tem cara de autista”; “ todo mundo é um pouco autista”; “ autismo e TDAH( Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade) são invenções mentais para não demonstrar
fraqueza”; sendo falas e expressões que , na verdade, são banalizações do diagnóstico que acabam
repercutindo negativamente, constrangendo e prejudicando, principalmente,
autistas adultos com transtornos comórbidos : ansiedade generalizada e depressão.
Diante de tantos
desconhecimentos e desserviços que já se apresentaram, gostaria de falar
da minha condição de autista adulto com
diagnóstico tardio , nível 2 de suporte
com comorbidades associadas. De vez em quando , percebo que ainda há
os(as) fiscais do autismo que não são nada empáticos(as) e, sim,
peçonhentos(as). Visto que, ficam fazendo julgamentos e questionamentos sobre
os meus direitos enquanto pessoa com deficiência. Direitos não são privilégios.
São adaptações necessárias visando intervenções, tratamento e uma melhor
qualidade de vida.
Leitor e leitora? Mas tanto
falei de diagnóstico que o mesmo pareceu ser ofertado facilmente. No entanto,
não é. Mostrando-se um tanto difícil devido à escassez de oferta de
profissionais qualificados, sobretudo, na rede pública. Apesar de alguns
avanços, entendo que são necessárias políticas públicas que garantam o acesso
ao diagnóstico e o atendimento especializado para todos e todas que precisam.
Sei que os
desconhecimentos e os desserviços sobre o
autismo continuarão. Contudo, a luta
seguirá firme no sentido de levar a conscientização e promover as mais
diversas políticas públicas de inclusão. “É hora da inclusão”. Por uma
sociedade antirracista e anticapacitista!