quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

OPINIÃO: Autismo e Hipocrisia por David Morais

No último dia 09/01, a comunidade autista recebeu a notícia trágica sobre uma mãe atípica de 63 anos de idade ter assassinado o seu filho autista de 27 anos de idade e ter tirado a própria vida no apartamento aonde moravam em Águas Claras-DF.

Na data já mencionada foi recebida a triste notícia e que os corpos foram encontrados devido ao mau cheiro que sentiram moradores do condomínio e terem chamado a polícia. Esta chegando, adentrou o apartamento e observou que os corpos já estavam sem vida há pelo menos uns 3 dias.

Comovente? Trágico? Sensacionalista? Sabiam que a mãe atípica era acometida de depressão. Mas que “aparentava” estar bem. Esteriótipo? Sim! Desumanidade? Sim! Por que  não sentiram falta da mãe atípica e do seu filho atípico? Em pleno Janeiro Branco qual o valor do ser humano? Quanta falta faz um ser humano? Cadê a promoção do cuidado com as famílias atípicas? Responsabilidade coletiva? Que nada! A mais pura hipocrisia!

A terrível tragédia envolvendo a mãe atípica e o filho autista é consequência de uma série de fatores desumanos e excludentes. Somando-se a invisibilidade do ser humano, o distanciamento de famílias atípicas , o preconceito com as neurodivergências, o capacitismo em todas as suas nuances, dentre outros.

Mesmo sendo um autista adulto com transtornos comórbidos, por exemplo, a depressão, enfrentando gigantes barreiras e as mais diversas exclusões, entendo que nem de longe é possível eu “sentir” as sobrecargas e as dores das mães e famílias atípicas. Visto que, são incomensuráveis e intransferíveis.

Equivocadamente, o autismo ainda é romantizado sem levar em conta as suas especificidades. Cheio de “anjos”, “especiais”, “exemplos de superação”, etc. Relegando as suas idiossincrasias e limitações. Sem apoio e suporte adequado. Sem acompanhamento necessário. E muitas vezes os direitos sendo negados, prejudicando a acessibilidade e a inclusão. Causando ainda mais adoecimento. Desdobrando-se em justificativas infundadas e hipocrisias.  

Diante de toda essa situação, aproveito para citar parte de uma conversa que tive com o amigo, escritor, pai e tio atípico Evilásio Júnior: “Só quem está dentro da situação pode ter uma dimensão disso. Sei bem como é vida frente a uma sociedade que nega direitos básicos.  A mãe atípica não se “matou” e nem “matou” o seu filho autista, não tirou a própria vida e nem assassinou. A sociedade os matou”.

Antonio David Filho da Silva Morais ( David Morais) : militante do movimento negro. Ativista neurodivergente .Burilador de palavras. Defensor dos Direitos Humanos. 



3 comentários:

  1. Artigo bem interessante, parabéns David

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  2. É verdade a sociedade os matou. Só sabe quem vive a dureza da incompreensão, dos grandes desafios e das incertezas. Meu coração se intristesse e me faz senti impotente, mas ao mesmo tempo que tenho este sentimento, uma força inexplicável me diz: Não desista nunca dessa causa!

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  3. É verdade a sociedade os matou. Só sabe quem vive a dureza da incompreensão, dos grandes desafios e das incertezas. Meu coração se intristesse e me faz senti impotente, mas ao mesmo tempo que tenho este sentimento, uma força inexplicável me diz: Não desista nunca dessa causa!

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