sábado, 14 de maio de 2011

ARTIGO: Abolição para os Morenos

  Por João baptista F. de Melo
A inestimável contribuição dos negros está inscrita na geografia do Rio como fruto de suor, areia, pau, pedra, lágrimas e risos, bem como corações e mentes. A fé em melhores dias nesta ou em outra dimensão mesclou os ritos africanos com a liturgia da Igreja Católica.     Trabalho e fé confluíram para uma cultura pulsante como aquela que vicejou na Cidade Nova, com o chorinho e o maxixe, na Praça 11 dos Bambas do samba e na decantada Pedra do Sal, lá pros lados da Gamboa, ou seja, na Pequena África do Rio de Janeiro, como expresso por Heitor dos Prazeres.
Gestos, passos, itinerários, bem como toponímias, palavras comuns, saborosa culinária, gingas, esportes, beleza e bossas sobressaem neste caudaloso Rio de Janeiro e toda gente enlaçada à condição negra.
Diante deste estuário de manifestações é desconcertante observar o racismo impregnado na alma de muita gente, cuja demonstração mais descabida esconde-se nos meandros e amplitude do vocábulo moreno.
Os racistas dissimulam e chamam mulatos e negros de todos os matizes simplesmente de morenos. Por sua vez, um contingente extraordinário dos agora chamados afrodescendentes assim, igualmente, se autodenominam. Moreno é a palavra chave para ocultar, encobrir o que deveria ser componente de amor-próprio ou autoestima.
Diante de tal quadro é preciso haver uma nova abolição para extirpar as sombras deste dissimulado racismo.
Não há nada errado em ser negro. De que se envergonham os “morenos”? A eliminação deste tipo de preconceito contido no vocábulo moreno precisa ser firmada com a retirada desse tolo subterfúgio dos anais e do cotidiano. Portanto, uma agenda de compromissos deve ser perseguida para se viver, com altivez, a plenitude da condição negra.

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