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segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

ACADEMIA MUNDIAL DE LETRAS DA HUMANIDADE REALIZA SOLENIDADE DE POSSE E ENTREGA DE TÍTULOS NO ENGENHO CENTRAL DE PINDARÉ - MA

Na noite do último sábado (06), o Cine Teatro/Auditório do Engenho Central de Pindaré recebeu autoridades culturais, escritores, pesquisadores e convidados para a Solenidade de Posse de Novos Membros Imortais e Entrega de Títulos Honoríficos promovida pela Academia Mundial de Letras da Humanidade (AMLH), Seccional Vale do Pindaré – MA.

Durante o evento foram empossados como Membros Imortais da AMLH a pindareense Nanci Eulalia Morais Ferreira Leite e Raelvane Costa Chaves, natural do Pará e radicado em Nova Olinda do Maranhão.

Além da posse, os já integrantes da Academia – Edilson Brito, Lindalva Corrêa, Lucimar Miranda e Rejanne Gentil – receberam homenagens com a outorga do diploma “Personalidade Magnífica do Ano”, título concedido pelo Presidente Mundial da AMLH, Dr. Camilo Martins.

Personalidades culturais homenageadas

A noite também foi marcada pela entrega dos certificados de “Personalidade Cultural” a representantes do Vale do Pindaré que desenvolvem ações de expressiva relevância para a preservação das tradições, da literatura, da educação e das artes na região. Foram homenageados:
Ana Luiza Pinheiro; Contra-Mestre Dorinaldo da Capoeira; Élle Marques; Hayana Martins; Jesana Teresa Dourado; Mauthus Ripardo; Mãe Lucimar Cutrim e seu João Bata; Rinaldo Medeiros e Família; Rita Trindade; Sandra Elouf; Sara Guajajara; Sheila de Areias e Valmir Trindade.

Representatividade e inclusão

A cerimônia foi conduzida pelo Presidente da Seccional Vale do Pindaré-MA, David Morais, representando o Presidente Mundial da instituição. A solenidade contou ainda com a participação especial da escritora Giselle Marques (Élle Marques), Membro Imortal de diversas Academias de Letras.

Para David Morais, a noite reafirmou o compromisso cultural e histórico da AMLH na região:

“Vivenciamos nesta noite mais um momento que deixa um profícuo legado. Uma contribuição incomensurável para a cultura de Pindaré-Mirim e de todo o Vale do Pindaré. Ademais, um sodalício diversificado, composto por escritores, pesquisadores, professores e pessoas com deficiência (baixa visão e autista) que têm reconhecimento e representatividade”, declarou.

Cultura, público e celebração

O evento reuniu grande público e foi prestigiado por representantes de diferentes segmentos culturais, contando também com apresentações de grupos artísticos de Nova Olinda do Maranhão e de Pindaré-Mirim. Encerrando a programação, os presentes participaram de um coquetel.

O encontro reforçou a valorização de artistas, pesquisadores e agentes culturais da região, destacando o papel da AMLH no fortalecimento da literatura e da identidade cultural no Vale do Pindaré.

domingo, 7 de dezembro de 2025

CRÕNICA DO DIA : "Praça " de Justiça & Cidadania

 

            Dona Ana Raimunda viera do quilombo São Sebastião dos Pretos exclusivamente para participar da 5ª edição da Praça de Justiça &  Cidadania, antes de entrar no carro caminhou até o centro da comunidade, onde era possível ver a escola, o Salão de Terecô e o pequeno museu do quilombo que guardava  correntes, panelas e outros objetos centenários provas palpáveis que seus bisavós foram escravizados. Participar da “Praça” de  Justiça & Cidadania lhe trazia um sentimento de esperança com cheiro de reparação e tempero de cidadania.

Dizem que toda praça carrega conversas guardadas nas árvores. Naquela semana, na Universidade Estadual do Maranhão em Bacabal, uma praça aprendeu a falar de Justiça, e não daquela que fica trancada em gabinetes, mas da que senta debaixo de tenda, olha no olho e pergunta: “em que posso ajudar?”.

A ideia nasceu longe dali, nos corredores dos tribunais, pelas mãos do Ministro Carlos Pires Brandão, ainda quando era desembargador no TRF1. Imaginou que Justiça não devia ser ponto fixo no mapa, mas estrada. E estrada, como sabemos, sempre chega onde a cidade costuma virar silêncio. Pois chegou.

Logo cedo, dona Ana Raimunda apareceu com o passo miúdo e a certeza grande: trazer um documento não é burocracia, é existência. Afinal, algumas coisas só começam oficialmente depois de um RG.
             
Vim ajeitar esse papel.-   Disse ela,  segurando o registro e ajeitando o vestido, como quem organiza a própria história..  -  Fui bem recebida. Que bom, né?

Ela sorriu como quem ajeita uma história antiga. Aquele pedaço de papel seria chave para portas que antes ela apenas empurrava timidamente.

Ao lado, Joana do Carmo, agricultora do Piratininga, balançava a cabeça concordando com o próprio pensamento:
            -  Tem oportunidade que se perde se a gente não vem logo. RG, gente pra ouvir… tá maravilhoso. - Repetiu, meio espantada com a naturalidade do atendimento.

As duas voltaram para a aba da tenda onde um servidor explicava cada passo, devagar, quase como professora da roça falando do alfabeto numa visão libertadora e crítica.

A juíza federal Hanna Porto, aquela menina dos cabelos apressados e olhar atento, era quem coordenava tudo com o juiz Hugo Abas Frazão. São de uma geração nova, inteligente, éticos e honestos da justiça brasileira. Os dois circulavam como quem fiscaliza vento: atentos ao que ninguém vê, mas sente.
            - A ênfase, desta vez, são as comunidades quilombolas. Não se pode promover Justiça sem enfrentar a desigualdade.  -  Repetia Hanna, em voz firme, para quem perguntasse.

Se alguém escutasse de longe, pensaria tratar-se de palestra, mas era fala cotidiana, como quem pede café: simples e necessária.

Numa sala da universidade, a poesia apareceu baixinho, como quem pede licença entre um atendimento e outro. Eram escritores e escritoras da Academia Bacabalense de Letras, com poemas e livros abertos do Padre João Mohana expostos como janelas antigas. Diziam que poesia ali não era mero enfeite, mas lembrança: a literatura também é recurso criativo de se fazer justiça.

Um rapaz de fala mansa, chamado Mario Lucas, estudante do Ensino Médio, observava tudo com aquela curiosidade de quem acha que o mundo pode mudar se as palavras cooperarem.
            -  Professora, isso aqui é Justiça, né? -  Perguntou para uma voluntária ao lado.
            - É, Lucas. Justiça é quando alguém deixa de ser invisível.
            Ele pensou uns segundos, como quem procura uma brecha no futuro:
            - Então devia ter isso todo mês… tem gente invisível todo dia.

A voluntária respirou fundo, talvez concordando, talvez desejando o mesmo.

Quem passava não encontrava discurso de solenidade. Encontrava gente. Caravanas pequenas saíam das comunidades do entorno, como Campo Redondo, Piratininga, Catucá, até chegar na praça. Alguns vinham só pela curiosidade; outros, porque documento era urgência. Uns vinham por conciliação, outros por esclarecimento. Todos vinham porque direito não deve morar longe.

“Praça de Justiça e Cidadania” parecia nome oficial, desses que ficam bons em faixa. Mas ali, naquela semana, ganhou definição própria: era o lugar onde perguntas encontravam respostas possíveis, e onde respostas abriam outras perguntas.

No terceiro dia, ouvi um senhor perguntar ao servidor:
 - Moço, quem nunca teve nenhum documento, começa por onde?

Trabalhava para a Justiça Federal há 30 anos e não pensava em aposentadoria. Nunca tinha ouvido uma pergunta tão profunda. O servidor não riu, não estranhou, não acelerou o passo. Apenas respondeu do começo, como quem abre um livro na primeira página:
            - A gente começa por você.

E naquele instante, por mais clichê que parecesse, havia uma declaração de humanidade. Justiça começa pela pessoa, sempre.

No final da semana, a praça já sabia o nome de algumas histórias. Talvez as árvores tenham decorado. Talvez os ventos tenham soprado para os lugares onde direitos custam a chegar. Talvez ninguém perceba, mas quando um RG é emitido, um mapa inteiro se redesenha e se conquista o reconhecimento do estado.

A aposentada, a agricultora, a empresária,  o estudante curioso, os poetas, as crianças correndo entre uma tenda e outra, todos carregavam consigo uma pequena vitória. Não a vitória épica dos tribunais, mas aquela silenciosa, íntima, quase doméstica: poder dizer “eu existo” em voz documentada.

No último dia, o menino Lucas voltou à roda da poesia e pediu para ler um verso. Não era de ninguém famoso. Era dele mesmo:

-  “Quando o nome cabe inteiro no papel, o futuro parece maior.”

A praça ficou uns segundos quieta, como se tivesse acabado de tirar a própria identidade. Depois, o vento respondeu, folheando as páginas expostas: talvez tenha sido concordância. Talvez tenha sido esperança.

E, assim, a praça guardou um novo tipo de lembrança. Não apenas o registro do evento, mas o registro de cada pessoa que aprendeu, ali, que cidadania não é visita, é permanência por toda a vida.

  P.S: Esta Crônica é dedicada ao Ministro Carlos Pires Brandão

 

José Casanova
Professor, Jornalista , Escritor e Cronista
Membro da Academia Bacabalense de Letras
Academia Mundial de Letras da Humanidade
Tutor da Academia Mundial de Letras  Infantojuvenil

sábado, 6 de dezembro de 2025

Academia Bacabalense de Letras ganha destaque na 4ª Praça de Justiça & Cidadania e reforça pedido por sede própria


    A cidade de Bacabal recebeu, ao longo desta semana (1 - 5), a 4ª edição da Praça de Justiça & Cidadania, iniciativa da Justiça Federal que reúne diversos órgãos públicos, instituições sociais e projetos comunitários com o objetivo de aproximar serviços essenciais da população. Entre os destaques culturais do evento, a Academia Bacabalense de Letras (ABL) marcou presença com uma programação que celebrou a literatura local e reafirmou a importância da arte como instrumento de cidadania.

    No espaço montado pela ABL, visitantes acompanharam recitais de poesia, participaram da exposição dedicada ao Padre João Mohana ,  uma das figuras mais significativas da história intelectual de Bacabal  e do Maranhão, e prestigiaram lançamentos de livros de escritores da região, fortalecendo a visibilidade dos autores bacabalenses.

Durante as atividades, o presidente em exercício da Academia, o escritor José Casanova, conversou com integrantes da Justiça Federal e destacou um dos principais desafios enfrentados pela instituição: a conquista de uma sede própria.

    A Academia precisa de um espaço digno, onde possamos expor permanentemente nossos livros, realizar cursos, palestras, oficinas literárias e receber a comunidade. Nossa missão é promover a cultura, e para isso precisamos de um lar que represente a literatura de Bacabal”, afirmou Casanova.

  O apelo foi ouvido com atenção pelo juiz federal Hugo Abas Frazão, um dos coordenadores da Praça de Justiça & Cidadania. O magistrado visitou o estande da ABL, participou das atividades literárias e demonstrou sensibilidade diante das necessidades apresentadas.

    Segundo relato dos presentes, Dr. Hugo Abas Frazão imediatamente entrou em contato com autoridades e parceiros da Justiça Federal, sinalizando disposição para colaborar na busca de soluções que fortaleçam a Academia Bacabalense de Letras.

 A interação entre a ABL e a Justiça Federal reforçou o caráter plural do evento, que não apenas oferece serviços jurídicos e sociais, mas também reconhece a cultura como eixo fundamental da cidadania. Para o público, os recitais e as exposições funcionaram como uma oportunidade de se conectar com a identidade cultural da cidade e valorizar a produção literária local.

    A Academia não popou elogios à dra. Hanna Porto Coordenadora doi evento, que consegiu juntar todos  os seguientos da justiça, com a partacipação de Juízes, Desembarfores e até um ministro do Superior Tribunal de Justiça.

    Com grande circulação de moradores, estudantes e representantes de instituições, a Praça de Justiça & Cidadania encerrou-se nesta sexta-feira (5), consolidando Bacabal como palco de integração entre cultura, educação, direitos e deveres , e abrindo espaço para que a literatura também ocupe o lugar de direito nas agendas públicas.













quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

CRÔNICA DO DIA: MARÉ PRETA DE BEM VIVER

Minha pele sem melanina me fazia diferente em meio àquelas mulheres negras que chegavam em caravanas. Eram Centenas de ônibus vindos dos quatro cantos do país.  Brasília acordou em estado de tambor, como se alguém tivesse batido o coração da cidade com as próprias mãos naquela terça-feira, 25 de novembro. A luz do sol do planalto central que costuma escorrer pelos edifícios modernistas de Niemeyer pareceu tremular, como se prestasse reverência ao cortejo que ainda se formava diante do Museu Nacional da República. Antes do relógio marcar onze horas, os primeiros tambores já respiravam no ar, era um som que não batia no ouvido, mas na memória.

Eram milhares.
Eram unidas.

Eram as mulheres negras do Brasil inteiro, caminhando para escrever mais um capítulo da sua própria história.

Senti algo que nunca tinha sentido antes, um sentimento que trazia a sensação de estar produzindo a reportagem de minha vida. Em meio ao mar de lenços, tranças, saias rodadas e palavras afiadas, caminhava dona Laurinda 68 anos, quilombola da Baixada Maranhense. Usava um vestido lilás e um colar de sementes que fora de sua avó.

            - Isso aqui já marchava antes de mim. -  Dizia ela.

Ao seu lado, o neto Lucas estudante de Ciências Sociais. Ele não marcharia, ficaria nos arredores para ajudar com água, orientações e acolhimento, mas era ele quem parecia aprender mais enquanto caminhava.

- Vó, é sempre assim? Essa força tanta quando a mulherada se junta? -  Perguntou Lucas, enquanto observava a multidão crescer.

Ela sorriu com aquele canto de boca de quem já viu o mundo tentar esconder sua existência.

-  Meu filho, força a gente sempre teve. O que faltava era o mundo parar pra enxergar.- 

- E agora enxerga?

-  Agora a gente obriga o povo a botar os óculos da consciência. – Disse sorrindo.


Mais adiante, vinha Jéssica, 32 anos, ribeirinha do Amapá, mãe solo e marisqueira. Nunca tinha saído da região onde nasceu. Foi o marido de criação, “não é pai, mas é quem cuida”, quem insistiu que ela fosse. Chamava-se Carlito, homem magro e de fala mansa, que viu a companheira perder primas, vizinhas e amigas para a violência doméstica que corrói silenciosamente a vida das mulheres.

Na porta de casa, antes da viagem, ele segurou as mãos dela com força:

- Vá, Jéssica. Vá e fale por todas elas.
-  E se ninguém ouvir? - Perguntou ela, receosa.

- Tem mais de dez mil mulheres indo contigo. Não tem como não ouvir. E se alguém fingir que não ouviu, a gente grita mais alto aqui.

Agora, em Brasília, Jéssica caminhava com os olhos úmidos, repetindo baixinho:

-  “Por elas… por elas… por nós…”

Mais ao centro da marcha, quase flutuando acima das bandeiras, estava Professora Núbia, 54 anos, intelectual da periferia de Bacabal, autora de livros sobre mulheres negras na educação. Ela conduzia um pequeno grupo de jovens, entre elas Marina, indígena Tukano, e Dandara, estudante de Direito. Em coro, entoavam uma frase que parecia empurrar a marcha adiante:

-  “Se o Brasil nasceu do nosso trabalho, a reparação nasce do nosso passo!”

Marina completava:

-  E do nosso canto. Sem canto não tem cura.

Foi aí que um grupo de homens que acompanhava a marcha, maridos, filhos, amigos e companheiros se aproximou e fez um círculo de proteção ao redor. Não invadiram o espaço; apenas reforçaram as bordas, como quem entende o limite entre apoio e protagonismo.

Um deles, Pedro, servidor público de Brasília, virou para o amigo:

- Hoje não é dia da gente falar. É dia da gente aprender.
- Aprende o quê? -  Perguntou o outro, meio confuso.

-  A ficar do lado sem atrapalhar. Isso já é meio século de atraso recuperado.

As mulheres riram ao ouvir de longe.


A marcha seguiu pela Esplanada dos Ministérios como um rio que lembrava o caminho esquecido. Cartazes pediam o fim da violência doméstica, o combate ao feminicídio, políticas de reparação histórica, respeito aos territórios, ao corpo e à autonomia das mulheres negras. O ar era pesado de um lado -  memória, luta - e leve do outro: esperança.

À frente da caravana maranhense, Dona Laurinda ergueu o punho e gritou para as outras:

-  MINHA AVÓ FOI PARIDA NA SENZALA. MINHA MÃE, NA PALHOÇA. EU NASCI NUM QUILOMBO. MINHA NETA VAI NASCER NUM BRASIL MELHOR!

O grito atravessou quadras, postes, prédios, asfaltos.
Havia quem chorasse.
Havia quem sorrisse.
Havia quem caminhava só para não desabar de emoção.

Quando o cortejo chegou à frente do Ministério da Justiça, a coordenadora da marcha pediu um minuto de silêncio. Os tambores cessaram como se obedecessem a uma memória maior.

E naquele um minuto, Brasília escutou o país inteiro respirando.

Foi Dona Jacira quem, sem aviso, quebrou o silêncio num sussurro que virou trovão:

- A gente não veio pedir. A gente veio cobrar. Quem plantou a dor fomos nós? Então por que o pagamento demora tanto?

Jéssica levantou sua faixa:

“Reparação não é favor. É justiça.”

Professora Núbia arrematou:

-  Bem viver é direito, não prêmio!

E Lucas, mesmo jovem, mesmo ainda aprendendo, completou:

-  E um país que não repara suas mulheres negras não merece chamá-las de cidadãs

Ao final, quando o sol começava a cair atrás do Congresso, a marcha se dispersou devagar. Não havia cansaço, mas uma espécie de força que só existe quando milhares caminham com o mesmo propósito. Jéssica encontrou Carlito por telefone:

- Conseguiu falar? - Perguntou ele.
-  Falei. E fui ouvida. Aqui e aí dentro de mim.
- Então já valeu. Volte orgulhosa.

Dona Laurinda apertou o braço do neto:

- Viu, Lucas? Isso não é só uma marcha. Isso é aviso.
- Aviso de quê, vó?

- De que se tentarem apagar a gente de novo… o Brasil inteiro vai ficar no escuro.

Ela sorriu. Ele sorriu.
E Brasília, mesmo silenciosa, parecia ainda pulsar no ritmo dos tambores.

Porque naquele 25 de novembro, as mulheres negras não caminharam apenas por elas, caminharam por tudo o que o Brasil pode ser, se algum dia tiver coragem de olhar de frente para as mãos que o construíram.

José Casanova

Professor, Jornalista, Escritor e Cronista membro da

Academia Bacabalense de Letras

Academia Mundial de Letras da Humanidade

Tutor da Academia Maranhense de Letras Infantojuvenil