domingo, 4 de julho de 2010

Frei Betto: Arte e religião

Autor de “Maricota e o mundo das letras”
Rio - Nada entendo de futebol. Mas não perco a Copa. Jogo do Brasil é missa obrigatória. Eu disse missa? Sim, sem exagero. Porque, no Brasil, futebol é religião. E jogo, liturgia. O torcedor tem fé no seu time.

Ainda que seja lanterninha, acredita piamente que dias melhores virão. Por isso, honra a camisa, vai ao estádio, grita, chora de tristeza ou alegria, qual devoto que deposita suas esperanças no santo de sua invocação.

O futebol nasceu na Inglaterra e virou arte no Brasil. Na verdade, virou balé. Aqui, tão importante quanto o gol são os dribles. Nossos craques têm samba no pé e senso matemático na intuição. Observe a precisão de um passe de bola!

No gramado, imenso palco ao ar livre, se desenha bela e estranha coreografia. Faça a experiência: desligue o som da TV e contemple os movimentos dos jogadores quando trombam. É uma sinfonia de corpos alados. Fosse eu cineasta, editaria as cenas mais expressivas em câmara lenta e as adequaria a uma trilha sonora, de preferência valsa, ritmando o flutuar dos corpos sobre o verde do campo.

O Brasil tem 190 milhões de técnicos de futebol. Todos dão palpite, como se cada um de nós tivesse, nessa matéria, autoridade intrínseca. Pena que a violência esteja contaminando as torcidas.

Nossa autoestima como nação se apoia, sobretudo, na bola. Somos o único país do mundo pentacampeão de futebol. Se a história dos países europeus do Século XX se delimita por duas guerras mundiais, a nossa é demarcada pelas Copas. E nossos heróis mais populares eram ou são exímios jogadores de futebol. A ponto de o mais completo, Pelé, ter o titulo de rei.

“Futebol se joga no estádio? Futebol se joga na praia, futebol se joga na rua, futebol se joga na alma”, poetou Carlos Drummond de Andrade. Com toda razão.
FONTE: O Dia

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