segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA: Entre Cliques e Corações

Estamos a viver em um mundo onde as relações humanas são escritas por linhas digitais, um emaranhado complexo de cliques e corações. Nessa era tecnológica, onde a conexão é medida em megabytes e as palavras são substituídas por emojis, as relações humanas florescem em meio aos algoritmos. A tecnologia que devia diminuir distâncias, nos afastas mesmo estando tão próximos uns dos outros

No epicentro desse fenômeno, encontramos Alice, sim, aquela “Alice no país das maravilhas”, agora já crescida; revela-se uma alma inquieta navegando nas águas tumultuadas da rede. Como qualquer adolescente, seus dias são preenchidos por amizades digitais, aquelas que se manifestam em forma de solicitações de amizade e curtidas. No entanto, por trás da tela brilhante, ela sente um não sei o “quê” de desconexão.

Num mundo onde a comunicação é instantânea, as nuances do contato humano muitas vezes se perdem. A arte de olhar nos olhos e interpretar as entrelinhas parece estar em extinção. Alice continua a correr contra o temo feito o coelho Lewis Carroll. Os relacionamentos, agora, são regidos por algoritmos, verdadeiros magos da previsão de  nossas preferências, mas raramente capturam a complexidade das emoções humanas.

Em meio a essa paisagem digital, Alice se ver mais uma vez perdida em uma encruzilhada. Ela se pergunta se suas conexões virtuais são genuínas ou apenas projeções cuidadosamente editadas da realidade. As conversas reduzidas a caracteres e as emoções expressas em emojis criam uma barreira sutil entre ela e aqueles que considera amigos. O Complexo torna-se simples e o simples perde-se no labirinto do complexo.

Contudo, em meio a esse desafio digital, Alice descobre um oásis de autenticidade. Quando menos esperava,  em uma noite chuvosa, um telefonema inesperado de um amigo distante revelou a magia da verdadeira conexão. As palavras reais, sem filtros, fluíam como música, e as risadas ressoavam mais alto do que qualquer emoji poderia expressar.

Essa experiência trouxe a Alice uma clareza reconfortante. Enquanto a tecnologia abria portas para novas formas de comunicação, a essência da conexão humana ainda residia na simplicidade de ouvir e ser ouvido. Como ser humano, sentia necessidade de ser humana. Porque as coisas mais simples do mundo, de repente se tornam tão complexas?

Na era digital, onde as amizades são quantificadas por seguidores e a intimidade é medida em pixels, é crucial lembrar que, por trás de cada tela, há um coração pulsante em busca de conexão genuína. Afinal, em um mundo de cliques e corações, as relações humanas continuam a desafiar os limites dos algoritmos, perseverando na busca eterna pela autenticidade.

Por José Casanova
Professor, Jornalista e Escritor da 
Academia Bacabalense de Letras

0 comentários:

Postar um comentário