sexta-feira, 17 de abril de 2020

CRONICA DO DIA :O DONO DA LUZ


     

  17 de abril de 2020. 
De repete a terra da bacaba vive novas emoções, parece inusitado, mas um cidadão que vive no escura para a sociedade, deu de roubar lâmpadas dos postes, sentia tanto prazer nisso que beira a fantasia sexual. O homem invisível, escuro, esperava com ansiedade o pretume da noite, esperava a cidade cair nos braços de morfeu e entrava em cena no espetáculo sem plateia Tinha alma de inseto, sentia-se atraído por qualquer luz que estivesse num poste qualquer.
Tinha admirável habilidade na sua arte, não subia, escalava o poste com a maestria de um regente. Tinha atração. Tinha tesão por lâmpadas.  Tinha prazer em ver a lâmpada apagar e com suas mãos de luvas retirá-la do poste e ver as ruas às escuras. Não foi a toa que nas últimas eleições votara naquele vereador  que tinha seus projetos escurecidos, acusados de inconstitucionalidade. Não sabia nem o que era isso, mas se os demais vereadores não aprovavam era por que era bom. Esse Vereador ficou na escuridão, o sistema apagou a sua luz, tinha proposto uma redução drástica na taxa de iluminação pública.
Era aí que a nossa personagem entrava, Iluminação pública pra que se todos apagavam a luz quando iam dormir? Resolveu assessorar o Vereador, e na calada da noite saiu tirando as lâmpadas dos postes. Achava lindo ―meu bixim‖ Samuel David falar na televisão:
─ Meus amigos, roubaram mais uma lâmpada do poste, desta vez na rua três na Vila São João. Essa notícia assistiu num restaurante barato ao lado de um policial com a cara escurecida de raiva. ─ Ah, se teu pego, vai ser uma delícia te apagar! – Comentou claramente o policial. Sorriu para dentro de sua alma escura, saiu de fininho, ainda tinha no bolso a última lâmpada roubada, dessa vez na rua Júlio Luz, a impressa estava atrasada.
Roubar lâmpadas lhe dava sensação de poder, sentia-se o dono da luz, senhor das trevas, parceiros dos namorados. Resolveu ousar. Arriscar-se e para sempre esquecer aquela noite em que sua mãe Maria Preta saiu e lhe deixou sozinho trancado numa casa sem luz. Isso ficou para sempre gravado no seu subconsciente feito uma tatuagem na alma. Chorara até os primeiros raios de sol entrarem timidamente pelas fretas no telhado da casa de taipas.
17 de abril de 1070.
 Neste dia aí, justamente neste dia aprendera a amar a escuridão e gostava de partilhar esse sentimento por todos. Era deixando as ruas no escuro que sentia a presença da mãe bêbada e mau comportada. 
17 de abril de 2020, hoje tornou-se a mais poderoso dos invisíveis sociais. Subiu num poste e simplesmente cortou a luz do centro cultural. Acabara a festa do centenaro.
Aquele policial cumpriu a promessa, lhe pegou no flagra com a boca na botija, digo com a mão na luz.  Ficou famoso, deu entrevista pro Romarinho, dormiu na cadeia numa cela pouco iluminada, foi liberado e deu a luz que tinha roubado. Até quando viveremos na obscuridade?
Hoje nosso cidadão sem nome é uma lenda urbana na terra  da  bacaba. Ao sair da delegacia passou numa igreja grande e bem iluminada, o pastor a pregar olhou nos seus olhos e falou;
─ Haja luz... e houve luz!... 

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